sexta-feira, 27 de junho de 2014

O fascínio pelo PCP

Muito curioso, este texto de Adelino Fortunato.



O fascínio pelo PCP

Eleições europeias e crise

Adelino Fortunato

A subida de votação nas europeias e uma aparente coerência do discurso de tom crítico em relação ao euro estão a dar ao PCP uma oxigenação política que há muito não sentia. Observadores de vários quadrantes não se cansam de elogiar o desempenho da CDU. O caso não é para menos, considerando o acréscimo de mais de 35.000 votos em relação a 2009, num contexto marcado pela abstenção e pelas ameaças populistas, e considerando que o PCP não costuma tirar partido da volatilidade eleitoral e das

transferências interpartidárias, uma vez que a sua arma principal reside no efeito fidelidade de uma base de votantes fixa.Porém, a maioria das vozes citadas não faz referência ao aspecto que melhor justifica aquele resultado. Um período de refluxo político e social e a austeridade violenta de um Governo de direita sem oposição significativa do PS, deixam todo um espaço para organizar a resistência. E o terreno da resistência é o preferido pelo partido de Jerónimo de Sousa, construído numa lógica de fortaleza permanentemente atacada durante todo o Estado Novo e de fortaleza sitiada no regime que se instituiu após o 25 de Novembro. Acresce que o PCP dispõe de um poderoso instrumento de mobilização de massas, a CGTP, que lhe permite utilizar o calor das lutas de rua canalizando-as para a pressão institucional e para o fortalecimento da sua imagem. Tudo isto tem um preço absolutamente calculado e bastante conservador. O PCP enquadra as mobilizações e acaba.


A subida de votação nas europeias e uma aparente coerência do discurso de tom crítico em relação ao euro estão a dar ao PCP uma oxigenação política que há muito não sentia. Observadores de vários quadrantes não se cansam de elogiar o desempenho da CDU. O caso não é para menos, considerando o acréscimo de mais de 35.000 votos em relação a 2009, num contexto marcado pela abstenção e pelas ameaças populistas, e considerando que o PCP não costuma tirar partido da volatilidade eleitoral e das transferências interpartidárias, uma vez que a sua arma principal reside no efeito fidelidade de uma base de votantes fixa. Porém, a maioria das vozes citadas não faz referência ao aspecto que melhor justifica aquele resultado. Um período de refluxo político e social e a austeridade violenta de um Governo de direita sem oposição significativa do PS, deixam todo um espaço para organizar a resistência. E o terreno da resistência é o preferido pelo partido de Jerónimo de Sousa, construído numa lógica de fortaleza permanentemente atacada durante todo o Estado Novo e de fortaleza sitiada no regime que se instituiu após o 25 de Novembro. Acresce que o PCP dispõe de um poderoso instrumento de mobilização de massas, a CGTP, que lhe permite utilizar o calor das lutas de rua canalizando-as para a pressão institucional e para o fortalecimento da sua imagem.

Tudo isto tem um preço absolutamente calculado e bastante conservador. O PCP enquadra as mobilizações e acaba  por esgotá-las num ponto em que nada mais resta senão a indignação contida e a sugestão de que votar CDU é a forma de “condicionar” (expressão em voga nalgumas sensibilidades) um futuro Governo PS. Que o digam os movimentos sociais, eles próprios afundados naquela exaustão, anulando-se assim uma concorrência incómoda! E será com este hipotético “condicionamento” que António Costa tentará jogar, se vier a ser primeiro ministro, para neutralizar a oposição à sua esquerda por intermédio de um acordo com os parceiros sociais que salve a face de ambas as partes, mas que não abdicará do essencial da austeridade. Ninguém melhor que ele para fazer isso.

O problema é que a experiência do PCP não é possível de replicar por quem quer que seja, faltar-lhe-á sempre a história, a implantação e os instrumentos de enquadramento das lutas essenciais àquele jogo de cintura. Mas também não seria desejável que isso acontecesse, por que a fractura política que a suporta só tem servido para manter a base do PCP imune às influências exteriores. E, num contexto em que a destruição do Estado social está na ordem do dia e em que outras ameaças ainda mais sérias podem vir a emergir, impõe-se lutar inequivocamente contra a austeridade da direita e aquela que a direcção do PS se prepara para adoptar, mas impõe-se também uma proposta agregadora e mobilizadora do conjunto da esquerda. Essa proposta, construída em torno de um programa de luta contra a austeridade e o Tratado Orçamental, deveria merecer a melhor atenção de todos os socialistas críticos, do Partido Comunista, do Bloco de Esquerda e restantes formações de esquerda, movimentos sociais e associações que se revejam nestes objectivos. Para contrariar a descrença e a passividade faz falta algo de novo que combine a combatividade e a firmeza com a abertura à unidade e a sugestão de eficácia que ninguém hoje isoladamente pode assegurar.

E o fascínio pelo PCP não ajuda a resolver este problema.
(Público, 22 Jan 2014)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Os resultados das eleições e uma pergunta estúpida


Só por curiosidade fui procurar os resultados das eleições dos últimos 5 anos.
Aqui ficam.

Europeias 2009 Legislativas 2009 Autárquicas 2009 Legislativas 2011
07-06-2009 27-09-2009 11-10-2009 05-06-2011
PSD/ CDS 1.424.201 2.247.774 1.441.186 2.813.729
PS 945.200 2.077.695 2.084.382 1.568.168
PCP 379.256 446.994 539.694 441.852
BE 381.696 558.062 167.101 288.973








Autárquicas 2012 Europeias 2014



29-11-2013 25-05-2014


PSD/ CDS 986.528 907.561


PS 1.812.029 1.031.958


PCP 552.690 416.091


BE 120.982 149.429

(As votações do PSD e CDS foram somadas.)

1. Sem querer retirar grandes ilações, note-se que o PCP foi o partido que teve a votação mais constante, aumentando a sua votação em comparação com as eleições europeias de 2009, em 36.800 votos, mas perdendo um pouco em relação às legislativas. 
Das autárquicas, onde o PCP tem tradicionalmente uma boa votação, há um saldo negativo de mais de 100.000 votos.
 
2. Note-se que o PS ganhou 86.700 votos em relação às anteriores europeias, mas perdeu comparando com todas as outras: metade dos votos relativamente às legislativas e autárquicas de 2009, e mesmo quase 800.000 votos das autárquicas de 2013.

3. O PSD/ CDS perdeu comparando com todas as outras eleições, tendo perdido dois terços (!!!!) dos votos desde as legislativas de 2011: quase dois milhões de votos. Mas perdeu meio milhão em relação às europeias de 2009!

4. O Bloco tem uma votação muito irregular, denunciando talvez a sua fraca influência no terreno, e acusando muito provavelmente a fuga dos votos populistas e do Livre.

Pergunta estúpida: Se a direita teve a pior votação de sempre, porque carga de água é que a crise está à esquerda?










































As pessoas e o país

«A vida das pessoas não está melhor …»


3 anos de governo PSD/CDS:


  • 340.000 desempregados – 45% jovens desempregados
  • 300.000 emigrantes
  • Dívida 90% PIB -» 130% PIB
  • Colossal aumento de impostos (directos e indirectos, IVA, IRS, IRC, IMI, IUC…) que levou milhares de famílias e empresas à falência
  • Falências duplicaram
  • O investimento na educação pública caiu em flecha enquanto o governo financia o ensino privado
  • O investimento na saúde e na protecção da saúde caiu em flecha, representando uma das grandes «poupanças» do estado
  • Uma parte substancial do financiamento do Sistema Nacional de Saúde foi desviado para os hospitais privados
  • Mais de metade dos desempregados subsiste sem qualquer apoio social
  • O investimento na investigação e no ensino superior caiu para metade
  • Os transportes públicos, a electricidade e o gás, subiram mais de 30%
  • Os gastos do estado com a cultura caíram para valores de antes do 25 de Abril
  • 1 em cada 4 portugueses é hoje pobre...
 
«… mas a do País está muito melhor»


3 anos de governo PSD/CDS:
  • A fortuna de Belmiro de Azevedo, Amorim e os restantes dos 0,001% dos portugueses ricos disparou  
  • Os bancos (que provocaram a crise nacional e internacional) capitalizaram-se (à nossa custa) e desfizeram-se dos «activos tóxicos» que a desregulação do mercado financeiro lhes tinha permitido
  • A reforma do Estado resumiu-se à saída de dezenas de milhares de funcionários públicos, que lançou os serviços públicos num caos,
  • à contratação de milhares de boys do PSD/CDS pagos a peso de ouro
  • à venda ao desbarato dos equipamentos do estado,
  • à (colossal) contratação de serviços de outsourcing
  • à privatização de sectores fundamentais do Estado

«A vida das pessoas não está melhor, mas a do País está muito melhor», Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD.

Não fiques em casa: Vota na esquerda!
 
(post originalmente publicado em O Gato Escarninho em 23 de Maio de 2014)